Criança e Saúde

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segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

A rotina ortopédica na síndrome de down.






Do ponto de vista ortopédico, crianças com diagnóstico de  Síndrome de Down apresentam maior flexibilidade articular devido a grande elasticidade ligamentar e hipotonia muscular. Além disso, apresentam atraso no desenvolvimento das aptidões motoras.


Logo ao nascimento, devem passar por avaliação pediátrica, ortopédica e cardiológica para afastar patologias congênitas.

O que o ortopedista precisa examinar?  

O exame físico geral envolve: 

 - Análise da mobilidade e estabilidade articular ( Principalmente quadris / joelhos / tornozelos e pés pois, suportam o peso corporal na marcha );
 - Pesquisa de contraturas que coloquem as articulações em posturas viciosas anômalas;
Obs: Atenção especial deve ser dada aos quadris pois, tem risco de displasia do desenvolvimento, ou seja, situação onde os quadris são instáveis (saem e voltam à posição normal), ou são luxados (permanecem fora da posição e irredutíveis).
- Comprimento dos membros inferiores,
- Arco de movimento dos joelhos e estabilidade da articulação da patela (osso da frene do joelho) pois, são de risco de instabilidade e malformação.
- Análise da coluna vertebral;
- Avaliação completa dos membros superiores;



Qual a historia natural do ponto de vista motor?
Frequentemente apresentam atraso motor. As crianças precisam de estimulo motor fisioterápico precoce, com objetivo de aquisição de aptidões motoras. É importante que a criança inicie a terapia motora logo após a avaliação ortopédica completa. O inicio da marcha na maioria das vezes atrasa, porém conseguirão marcha independente. Cada criança tem seu tempo. A Fisioterapia é fundamental nesse quesito
O formato dos pés no início da marcha será plano (sem a curvinha medial), o que dará um aspecto de que estão pisando torto. Embora cause preocupação, na maioria das vezes, não atrapalha o desempenho motor, geralmente não precisam de palmilhas e devem ser protegidos com tênis confortável quando já tiverem iniciando os passos com ou sem auxilio.
Quedas frequentes são comuns, porém não tem nenhuma relação com os pés planos. Ocorrem simplesmente por imaturidade do sistema nervoso central em permitir coordenação motora e bom equilibrio.


E a coluna cervical? Há risco para prática esportiva?
Sim, há risco. É fundamental, após o inicio da marcha independente e, principalmente, antes de iniciar prática esportiva de contato, uma avaliação do pescoço.

Por quê?
Instabilidade atlantoaxial, entre a primeira e a segunda vertebra cervical, além da entre o crânio e a primeira vertebra cervical.
A coluna cervical protege a medula espinhal porém, quando há instabilidade e a criança é submetida a esportes que predispõe a trauma no pescoço, isso pode levar à lesão medular e suas consequências quanto a paralisia motora.

Como é feito?
Exame físico, análise da marcha, mobilidade do pescoço, presença de dor ou torcicolo de repetição. Em relação às imagens, o fundamental é o Raio-X dinâmico em perfil com flexão, onde serão feitos medições do intervalo entre a primeira e segunda vertebras cervicais.Com esses dados podemos, com segurança, recomendar a prática esportiva ou contra-indicar esportes de contato até o tratamento da instabilidade ser concluído.

Qual a periodicidade das avaliações ortopédicas?
A recomendação é anual, podendo ser antecipado se surgirem queixas, antes disso.
Surgimento de claudicação (mancar) - sem causa aparente, diminuição das distâncias caminhadas, acompanhado ou não de dor, deve ser motivo de preocupação e revisão ortopédica.
Quadris, joelhos e pés devem ser monitorados com exame físico e de imagem, se necessário.
A coluna vertebral apresenta risco de desenvolvimento de escoliose, principalmente na fase de crescimento rápido da adolescência e, portanto, também deve ser acompanhado.
Com esse protocolo podemos manter a saúde ortopédica das crianças com diagnóstico de Síndrome de Down.

Obrigado pela atenção.

Um abraço a todos.

Dr. Maurício Rangel (Ortopedista Pediátrico)

Para marcar consulta, tel. (21) 3264-2232/ (21) 3264-2239. 




quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Os cuidados com a coluna do recém nascido.




Qualquer anormalidade na coluna vertebral do recém nascido, observado pelos pais, familiares ou cuidadores, deve ser esclarecido na avaliação médica.

As anormalidades mais frequentes encontradas estão localizadas no final da coluna vertebral, na região chamada sacro, ou seja, aquela situada logo acima do sulco interglúteo.

Algumas vezes, a criança nasce com anormalidades na pele desta região sendo um dos exemplos mais comuns, a presença de  um "furinho" ou, como mencionado por muitos, uma "covinha", na pele da região sacral. Podemos encontrar também, lesões cutâneas escuras na pele desta região podendo conter acúmulo de pêlos, conhecido como "tufo piloso" ou hipertricose.


 Outro aspecto que chama a atenção dos familiares vem a ser, a presença de assimetria ou desvio da prega do sulco interglúteo, além de qualquer caroço ou aumento de volume localizado na região lombar ou sacral.

O que esses achados podem significar?

Chamamos de disrafismo espinhal, qualquer patologia congênita do tubo neural, podendo ser localizada no canal medular,  medula e raizes espinhais.

Essas alterações cutâneas observadas no recém nascido, na região lombar ou sacral são sugestivos de disrafismo espinhal.

Na maioria das vezes, mesmo com a presença de anormalidades cutâneas citadas acima, a criança apresenta mobilidade e sensibilidade completas dos membros inferiores.

O disrafismo espinhal mais comum, é conhecido como espinha bifida oculta, ou seja, um defeito ósseo de fechamento do arco posterior da quinta vértebra lombar ou da primeira vertebra sacral (foto abaixo). Para o diagnóstico é necessário exame de imagem da coluna vertebral. Não leva a nenhuma repercussão motora, não causa sintomas e pode estar presente em crianças que apresentam ou não a "covinha" ou o" furinho" na pele na região sacral. Até 20% da população apresenta a espinha bifida oculta, sem nenhuma anormalidade ou sinal cutâneo para isto e, por isso, a denominação "oculta", muitas vezes, sendo um achado no exame de imagem feito para outro fim.


 Na maioria das vezes, o "furinho"na pele, que tem a denominação médica de "dimple", não se comunica com o canal medular e não exige nenhum cuidado especial.

Então, onde esta o problema?

Os problemas existem, sempre que estivermos diante de crianças que apresentam os sinais cutâneos citados acima, associado a sintomas dolorosos lombares ou deficit neurológico progressivo nos membros inferiores. 

Os principais sinais e sintomas são :

- Dor lombar e/ou sacral;
- Escoliose de início precoce e progressiva;
- Claudicação na marcha (mancar);
- Diminuição na circunferência da coxa ou perna em um dos lados do corpo;
- Diminuição no tamanho do pé em um dos lados;
- Presença de deformidade progressiva, unilateral no pé, sendo o mais comum o surgimento de aumento do arco plantar medial, conhecido como pé cavo.
- Surgimento de incontinência urinária.

A presença desses sintomas, associado a alterações cutâneas na região lombar e sacral, nos obriga a fazer a investigação para patologias do canal medular que cursam com ancoramento da medula.


 São diversas as possibilidades existentes para justificar esses sintomas sendo que, as mais conhecidas são a diastematomielia, lipoma terminal, espessamento do filum terminal, cursando com aderência da medula em niveis abaixo da sua localização anatômica habitual.

Com imagens especificas, conseguimos determinar o diagnóstico e recomendar o tratamento de desancoramento medular com o neurocirurgião.

As deformidades no pé e na coluna vertebral devem ser acompanhadas e tratadas pelo ortopedista pediátrico, após o desancoramento medular.

É importante reconhecer que anormalidades cutâneas na linha média dorsal do corpo do bebê, podem significar patologias no tubo neural. Preocupação deve ocorrer quando estão presentes sintomas de origem neurológica, citadas acima.

O reconhecimento precoce por parte de qualquer profissional de saúde que avalie a criança, seja o pediatra ou o ortopedista, é fundamental para a recomendação de tratamento definitivo.

Obrigado pela atenção,

Um abraço a todos.

Dr. Maurício Rangel (Ortopedista Pediátrico)

Para marcação de consultas ligue: (21) 3264-2232/ (21) 3264-2239.

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Como proteger os quadris na paralisia cerebral?


Crianças com paralisia cerebral espástica (hipertonia muscular) e envolvimento corporal completo (tetraparesia), frequentemente desenvolvem patologia nos quadris.

São crianças que apresentam importante compromentimento motor, atraso no desenvolvimento das habilidades motoras, tem pouca sustentação da cabeça e tronco, geralmente não caminham, sendo cadeirantes e, este cenário, constitue o grupo de crianças de risco para doença dos quadris.

A história natural dos quadris não tratados revela que, devido as forças musculares deformantes (músculos hipertônicos), os quadris tendem a perder a sua relação anatomica normal, ou seja, a cabeça femoral perde a sua cobertura e, com isso, os quadris passam a ser subluxados.


 Não sendo reconhecido e tratado precocemente, o quadro torna-se pior, com a evolução para perda completa da cobertura da cabeça femoral e, com isso, teremos o quadril luxado
.
Se, mesmo assim, não for reconhecido e principalmente se não for tratado, o quadril luxado irá piorar em variado período de tempo, evoluindo para degeneração da cartilagem articular da cabeça femoral, surgimento de erosões e deformidade da cabeça femoral com perda do seu formato arredondado normal e desenvolvimento de dor de forte intensidade e de difícil controle, piorando em muito a qualidade de vida da criança.

Pelo exposto acima, fica fácil entender que esta história natural desfavorável precisa ser impedida e, a forma que temos para fazer isso, é através do reconhecimento e tratamento preventivo, na fase inicial da patologia, onde os quadris estão subluxados, garantindo assim a congruência desta articulação.

Para isso, foi desenvolvido o programa de vigilância dos quadris das crianças com paralisia cerebral.

Durante o crescimento e desenvolvimento das crianças, os quadris são submetidos a forças musculares deformantes.

Como saber que os quadris estão em risco?

Clinicamente o quadril começa a apresentar limitação na mobilidade, principalmente na abertura para a troca de fralda, os cuidadores observam que um dos lados abre adequadamente enquanto que o outro, tem limitação ou, no caso do envolvimento bilateral, a dificuldade de abertura será de ambos os quadris.

Outro indicativo de patologia dos quadris vem a ser, o surgimento de deformidade, ou seja, contratura em adução, dificultando o posicionamento em pé (ortostatismo terapêutico ou postura ereta da criança) pois, adotam a postura em cruzamento das pernas onde, uma perna fica sobre a outra e, com isso, a criança tem dificuldade de ficar ereta.

Quando o quadril já esta luxado, outro problema observado vem a ser o encurtamento do membro inferior e o surgimento de desnível da bacia (obliquidade pelvica) que vai dificultar o posicionamento sentado da criança na cadeira de rodas. Com o desnível da bacia, ocorrerá hiperpressão em uma das regiões glúteas com surgimento de dor e incapacidfade de premanecer sentado com conforto por prolongado período, prejudicando assim a qualidade de vida da criança.

A obliquidade pelvica, uma vez desenvolvida, será um fator de risco para o surgimento ou agravamento da escoliose que, irá prejudicar o equilibrio do tronco e a postura sentada na cadeira de rodas além de prejuizo na função respiratória.


O programa de vigilância dos quadris na paralisia cerebral foi desenvolvido com objetivo de identificar e tratar preventivamente aqueles quadris que estão evoluindo mal e, com isso, modificar a história natural citada acima. Deve ser iniciado de imediato, logo que confirmado o diagnóstico da paralisia cerebral e, em todas as crianças com envolvimento corporal completo, sejam elas tetraparéticas ou diparéticas.

O programa é feito com consultas médicas ortopédicas regulares e a intervalos pré-determinados onde, os quadris passam por rigoroso exame fisico e obrigatório exame de imagem.

Com a imagem, os parâmetros radiológicos de congruência articular são monitorados e a evolução ao longo do tempo é estabelecida permitindo ao cirurgião ortopedista identificar e executar o tratamento preventivo, dos quadris onde a congruência estiver sendo perdida, garantindo assim a saúde articular dos quadris.


O tratamento preventivo dos quadris subluxados na paralisia cerebral é exclusivamente cirúrgico, com alongamentos tendinosos dos músculos responsáveis pelo desequilibrio muscular, ou seja, o grupo flexor-adutor dos quadris.

Trata-se de cirurgia de partes moles, pouca morbidade e com resultados satisfatórios no quesito correção da congruência articular.

Com o programa de vigilância dos quadris podemos prevenir o quadro de luxação do quadril e com isso, tratar as crianças com cirurgias de menor porte e morbidade, com alto índice de satisfação.

É fundamental permitir que todas as crianças tenham acesso a tratamento preventivo e ao programa regular de vigilância dos quadris.

Esta é uma forma de carinho muito importante para as crianças. Não negligenciem os quadris.

Obrigado pela atenção.

Um abraço a todos.

Dr. Maurício Rangel (Ortopedista Pediátrico)

Para marcar consultas o tel. é: (21) 3264-2232/ (21) 3264-2239.

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

O quadril doloroso do adolescente. Conheça as causas.





A dor no quadril, virilha ou coxa do adolescente é uma queixa frequente encontrada na pratica médica diária.

Existem diversas patologias do quadril, na infância, que podem deixar sequelas anatômicas na articulação e, assim, predispor o início de sintomas dolorosos na adolescência ou na vida adulta jovem.

Para que o leitor entenda, é preciso saber que, a anatomia normal do quadril revela uma cabeça femoral com o formato esférico (redonda), coberta quase que completamente por uma estrutura chamada de acetábulo (considerado o teto da articulação) e, por uma estrutura fibrocartilaginosa chamada de labrum.
Essas estruturas (cabeça femoral e o acetábulo ), precisam ter uma relação anatômica perfeita para a articulação ser considerada congruente.

Diversas patologias da infância produzem anormalidades na anatomia do quadril, seja na cabeça femoral que perde a sua forma arredondada, na junção entre a cabeça e o colo femoral (gerando impacto femoroacetabular) ou  no acetábulo, que perde a sua capacidade de cobrir a cabeça femoral.

Com isso, a articulação passa a ter seu funcionamento prejudicado, podendo não apresentar sintomas precocemente na infância mas, na fase de adolescente ou adulto jovem, as queixas dolorosas surgem.


As principais patologias do quadril pediátrico que produzem sequelas anatômicas são:

- Displasia do desenvolvovento do quadril (Luxação congênita do quadril);
- Epifisiólise;
- Doença de Legg-Calvé-Perthes;
- Sequelas pós-infecciosas (artrite séptica).

Portanto, quando diante de um adolescente ou adulto jovem, com dor no quadril, é muito importante perguntar e conhecer o histórico de patologias do quadril na infância, bem como, seus tratamento prévios.

As caracteristicas da dor:


Geralmente o relato é de dor crônica, intermitente, podendo ser exacerbada com caminhadas longas, prática esportiva, subir escadas ou permanecer por muito tempo sentado. Pode haver sensação de estalidos dolorosos com ou sem bloqueio do movimento, bem como sensação de falseio ou instabilidade articular.

A marcha:

Episódios intermitentes de claudicação (mancar), são frequentes, podendo ocorrer apenas nos momentos de dor mas, pode ser uma característica constante e marcante da marcha dos pacientes acometidos, principalmente nos que tem deformidade fixas e encurtamento do membro inferior.

A análise médica:

É rotina examinar o alinhamento dos membros inferiores, bem como o seu comprimento.

Sabemos que as sequelas das patologias da infância, nos quadris, frequentemente cursam com encurtamento do membro acometido.

A mobilidade articular passiva também precisa ser avaliada com um cuidadoso exame fisico articular.

Manobras especificas visando diagnosticar contraturas e deformidades fixas na articulação, são fundamentais na avaliação médica.

Testes clinicos provocativos podem elucidar a origem da dor e portanto, devem ser obrigatoriamente realizadas.

Os exames complementares de imagem:

São fundamentais para confirmação diagnóstica e planejamento quanto ao tratamento. As principais imagens solictadas são radiológica, tomografica e ressonância magnética. Cada modalidade deve ser solicitada, de acordo com os achados do exame físico realizado.

O tratamento:

Tem como objetivo obter analgesia, recuperar os movimentos, corrigir deformidades e evitar a progressão para osteoartrose precoce do quadril.

As modalidades de tratamento vão depender do diagnóstico etiológico,  podendo ser conservador (não cirúrgico) ou cirúrgico (aberto ou artroscópico).

As cirurgias de preservação do quadril são as que predominam, na maioria das vezes, podendo ser citadas as osteocondroplastias do colo femoral, as osteotomias periacetabulares e as osteotomias femorais. Algumas vezes, uma combinação destes procedimentos será necessário.

Obrigado pela atenção.

Um abraço a todos.

Dr. Maurício Rangel (Ortopedista Pediátrico)

Cosultório: Tel. (21) 3264-2232/ (21) 3264-2239.

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

As órteses na criança com paralisia cerebral. Benefícios e limitações



O que é uma órtese?

Para que serve?

Quando deve ser usada e quando é contra indicada?

Este artigo é direcionado para você que é pai, mãe ou cuidador de uma criança com paralisia cerebral e que, muitas vezes, não teve a oportunidade de esclarecer dúvidas, definições e funções de uma órtese.

Quantos de vocês tiveram prescrições de órteses para seus filhos/as porém, nunca foi explicado quais os beneficios e limitações deste aparelho.

As órteses são aparelhos usados para melhorar o alinhamento das articulações, principalmente aquelas envolvidas na locomoção.

As órteses que são frequentemente usadas em crianças com paralisia cerebral, são conhecidas como AFO (Ankle, Foot, Orthoses), ou seja, órtese tornozelo-pé.


Elas podem ser fixas ou não articuladas, articuladas ou órteses de reação ao solo.

Na paralisia cerebral espástica, os tornozelos e pés são segmentos corporais muito acometidos pela hipertonia muscular, sendo portanto, sujeitos a deformidades com o crescimento esquelético da criança.

As principais deformidades que são observadas nos pés são os pés equinovalgo, ou seja, clinicamente são planos e os pés equinocavovaro, ou seja, clinicamente vemos o pé torto neurológico.

Sabendo disso, fica fácil entender que os pés e tornozelos precisam de atenção ortopédica precocemente para mante-los livres que deformidades que prejudiquem o desempenho motor da criança.

Portanto, as principais funções e objetivos das orteses AFO são:

- Melhorar o alinhamento dos tornozelos e pés mantendo-os posicionados adequadamente para que a criança possa ser colocada em pé, possa usar calçados e, nas que tem capacidade de marcha, possam ter marcha mais eficiente;

- Permitir um suporte externo para tornozelos e pés, melhorando a estabilidade para ortostatismo (ficar em pé) e consequente equilibrio;

- Diminuir a velocidade de progressão das deformidades com o crescimento esquelético da criança;

- Nas crianças que caminham, as órteses impedem que a frente do pé arraste no chão no momento do passo (fase de balanço da marcha)

As deformidades nos pés da crianças são complexas e acometem a parte de trás do pé (retropé), o mediopé (meio do pé) e a frente do pé (antepé).

Estudos foram desenvolvidos para saber se, com as órteses, os parâmetros radiológicos dos 3 segmentos do pé acometidos pela deformidade, podem ser corrigidos, ou seja, se as órteses restabelecem as relações ósseas e articulares normais dos pés.


Neste quesito, os resultados revelam que as deformidades em equinovalgo dos pés (planos), são as que melhor se adaptam as órteses pois, são deformidades mais flexiveis, podendo ser mantidas alinhadas em posicão fisiológica com as órteses, mesmo assim, apenas 45% conseguem restabelecer um parâmetro radiológico, seja do retropé, mediopé ou antepé.

Quando consideramos os pés tortos neurológicos (equinocavovaro), os resultados são ainda piores, com apenas 20% conseguindo restabelecer um parâmetro radiológico. A explicação para isso vem a ser que, essas deformidades tem comportamento mais rígido.

Com isso, podemos concluir que, a principal limitação das órteses vem a ser a incapacidade de corrigir deformidades, ou seja, a melhora o alinhamento do pé ocorre porém, as relações articulares (congruência das articulações do pé), não são corrigidas com o aparelho e, assim, os parâmetros radiológicos normais, na maioria da vezes, não são corrigidos.

Portanto, quando os pés tem deformidades que não são capazes de ser controladas com as órteses, fica claro e fácil entender que, precisam ser corrigidas com as cirurgias ortopédicas e com isso, restabelecer as relações articulares normais e os parâmentros radiológicos, tornando-os plantigrados e bem posicionados para sustentar o peso corporal e permitir que a criança fique em pé e troque passos, naquelas que tem capacidade motora para isso.

Obrigado pela atenção,

Um abraço a todos,

Dr. Maurício Rangel (Ortopedista Pediátrico)

Para marcar consulta ligue: (21) 3264-2232/ (21) 3264-2239.

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Lombalgia em crianças: Mitos e verdades.



Existem diversas causas para dor lombar em crianças e adolescentes.

A hérnia discal é uma das possibilidades diagnósticas quando estamos diante de um adolescente com lombalgia ou lombociatalgia.

O disco interverterbal é uma estrutura anatomica localizado entre os corpos vertebrais e tem como função absorver os impactos na coluna vertebral e permitir a mobilidade entre os corpos vertebrais, sendo formado por um anel fibroso e um núcleo pulposo.

Chamamos de hérnia discal a lesão do anel fibroso com protusão do núcleo pulposo. (foto abaixo)


 O fator predisponente mais associado para hérnia discal, em adolescentes, vem a ser o traumatismo local.

Os traumas podem ocorrer de forma aguda, como nas quedas ou, serem recorrentes e repetitivos, como os que ocorrem nas práticas esportivas de contato.

O quadro clínico encontrado, na maioria das vezes é a de um adolescente com dor lombar (lombalgia) ou dor na face posterior do membro inferior.


Pode referir também fraqueza no membro inferior acometido com sensação de formigamento ou de dormência na perna, embora déficit neurológico não seja frequente nesta faixa etária.

Um achado do exame fisico muito frequente, que deve ser realizado obrigatóriamente na consulta, pelo profissional de saúde, vem a ser a reprodução ou piora da dor lombar ou na face posterior da coxa com a manobra de elevação da perna reta. Essa manobra, quando positiva, indica irritação da raiz nervosa acometida pela hérnia.


O adolescente acometido também apresenta impossibilidade de inclinar o tronco para frente, quando está na postura ereta, devido ao quadro doloroso, dor a palpação da musculatura lombar com espasmo muscular e escoliose antálgica com limitação na mobilidade da coluna lombar.

Diante deste quadro, uma avaliação neurológica dos membros inferiores é obrigatória com testes de força muscular e avaliação dos reflexos tendinosos.

A confirmação diagnóstica é feita com exames de imagem sendo que a radiografia, ressônancia magnética e tomografia são as mais utilizadas, cada uma com suas indicações específicas.

As regiões mais acometidas pela hérnia discal lombar são entre a quarta e quinta vértebras ou entre a quinta vértebra lombar e a primeira sacral.


O diagnóstico diferencial deve ser feito com fratura por avulsão da perede posterior do corpo vertebral (fratura apofisária) e, para isso, exame de imagem é fundamental.

O tratamentio incial deve ser conservador, ou seja, não cirúrgico e consiste em repouso, uso de analgésico, anti-inflamatório, relaxante muscular e fisioterapia.

O tratamento cirúrgico deve ser recomendado para aqueles casos refratários ao tratamento conservador ou que apresentam déficit neurológico progressivo.

Conclusão:

Hérnia discal é uma das possibilidades diagnósticas para lombalgia em adolescentes.

O diagnóstico exige um cuidadoso exame físico ortopédico e neurológico dos membros inferiores e, exames de imagem, são fundamentais para a confirmação e diagnósticos diferenciais.

Obrigado pela atenção.

Um abraço a todos.

Dr. Maurício Rangel

Para marcar consultas ligue: (21) 3264-2232/ (21) 3264-2239

sábado, 9 de agosto de 2014

Conheça a escoliose na paralisia cerebral.


A escoliose é um desvio tridimensional da coluna vertebral, cujo principal componente é a deformidade lateral e rotacional vertebral.

As crianças com paralisia cerebral e envolvimento completo corporal, ou seja, as tetraparéticas, não andadoras, são as mais acometidas pela deformidade vertebral.

Trata-se de um grupo de crianças e adolescentes com paralisia cerebral cuja classificação motora funcional tem como característica, a incapacidade para marcha, pouca sustentação da cabeça, pescoço e tronco sendo portando, necessário o deslocamento com cadeira de rodas.



A deformidade vertebral não é só lateral e rotacional, muita vezes, tem componentes importantes em hirpercifose e hiperlordose que levam a dificuldades no manuseio diário das crianças.


Por que surge a escoliose?

Na tetraparesia espástica, a escoliose surge devido a espasticidade da musculatura paravertebral, incapacidade de sustentação do tronco e fraqueza muscular.




As queixas apresentadas:

Quando a deformidade é progressiva, os principais problemas citados pelos cuidadores e familiares são:

- A diminuição da tolerância das crianças de permanecerem sentados com conforto na cadeira de rodas;

- Dor na coluna vertebral devido a deformidades acentuadas, não só lateral mas também, em hipercifose e hiperlordose;

- Desvio da pelve (obliquidade pelve), onde um dos lados da pelve (osso da bacia) se eleva, dificultando o posicionamento sentado da criança. Além disso, o desvio da pelve é um dos fatores que levam a deslocamento do quadril com surgimento de dor e deformidade nesta articulação;


- Surgimento de úlceras na pelve e no sacro devido ao apoio assimétrico do peso nessas regiões;

- Quando existe deformidade em hipercifose torácica, a dificuldade em sustentar o tronco, leva a prejuízo na alimentação dos pacientes que o fazem por via oral e que não tem gastrostomia;

- Deformidades acentuadas toracolombares levam a prejuízo respiratório e dificuldade na mobilização de secreções respiratórias.


A consulta médica ortopédica:

A avaliação médica deve levar em consideração todos os problemas citados acima, o exame físico da deformidade, principalmente no que diz respeito a flexibilidade das curva e a presença de obliquidade pélvica, o equilíbrio do tronco quando a criança estiver sentada e a avaliação radiológica da deformidade com medição da curva no plano coronal e sagital.

O tratamento:

Em crianças de baixa idade, com curvas flexíveis e de baixo valor angular, o tratamento conservador deve ser realizado com medidas fisioterápicas que proporcionem melhora na postura vertebral, adaptações no encosto da cadeira de rodas de forma a corrigir a deformidade com colocação de coxins adaptados ao encosto da cadeira para corrigir as curvas.

Sabemos que uso de coletes não são recomendados para as crianças tetraparéticas espásticas pois, seu uso leva a úlceras na pele, não são bem toleradas e não tem comprovação científica em impedir a progressão da deformidade, portanto, ao invés de coletes, damos preferência a realização de adaptações no encosto da cadeira, feitos na oficina ortopédica.

Nas curvas progressivas, rígidas, com valores angulares acentuados, onde as medidas conservadoras são ineficazes em aliviar os sintomas e melhorar a qualidade de vida da criança ou adolescente, estará indicado a correção cirúrgica da deformidade com artrodese vertebral e instrumentação até a pelve.

Trata-se de cirurgia de grande porte porém, que oferece resultados satisfatórios para aquelas deformidades acentuadas, alívio da dor vertebral, correção da aparência da coluna vertebral, aumento da tolerância sentado na cadeira de rodas, interrupção no surgimento de úlceras e correção do desvio da pelve.

Obrigado pela atenção.

Um abraço a todos.

Dr. Maurício Rangel

Para agendar consultas, o tel. do consultório é (21) 3264-2232/ (21) 3264-2239.

segunda-feira, 30 de junho de 2014

Os pés da criança com paralisia cerebral



A deformidade dos pés da criança com paralisia cerebral é muito comum.

As mais frequentes são conhecidas como pé equino e suas variantes, ou seja, o pé equinovaro e equinovalgo.

Definindo os tipos de deformidade dos pés:

Pé equino

Chamamos de pé equino aquele em que a criança só apoia a ponta dos dedos no chão, quando colocada em pé.

O pé é chamado de equinovaro, quando encosta a ponta dos dedos e a borda lateral no solo, quando a criança é colocada em pé.

Pé equinovaro

O pé equinovalgo é aquele em que a criança ao ser colocada em pé, encosta a ponta dos dedos e a borda interna do pé no solo.

Pé equinovalgo

As crianças hemiplégicas, ou seja que tem espasticidade (aumento do tônus muscular em apenas um lado do corpo) e as tetraplégicas (aumento do tônus muscular acometendo o corpo todo), geralmente, apresentam os pés com deformidade em equinovaro.

Aquelas crianças diplégicas (aumento do tônus muscular principalmente nos membros inferiores), geralmente, apresentam os pés com deformidade em equinovalgo.

As deformidades podem ser classificadas em fixas e irredutíveis quando, ao manusearmos os pés, durante o exame físico ortopédico, percebemos que a deformidade não consegue ser corrigida pela simples manipulação do pé.

Podem também ser dinâmicas, ou seja, manifestarem-se principalmente quando a criança esta caminhando, sendo corrigida parcial ou completamente quando manipulamos o pé, no exame físico ortopédico.

Por que os pé deformam?

Devido ao desequilibrio muscular entre os músculos acometidos pela espasticidade (hipertônicos), predominando sobre os músculos não acometidos.

Nas crianças com paralisia cerebral, que tem capacidade de caminhar, um o outro mecanismo responsável pelo surgimento da deformidade, vem a ser a contração involuntária de determinados músculos do pé e tornozelo, fora dos momentos fisiológicos que deveriam ocorrer, durante as fases da marcha, gerando as deformidades dinâmicas do pé, só observadas durante a marcha da criança.

Quais os prejuizos que as deformidades propiciam para a criança?

São inúmeros e ocorrem mesmo naquelas crianças que não tem capacidade de marcha independente.

Neste grupo de crianças, com envolvimento completo do corpo pela espasticidade, uma etapa importante do tratamento vem a ser o que chamamos de ortostatismo terapêutico ou seja, proporcionar para a criança os benefícios de ser colocada na postura de pé e ereta, com uso de órteses e extensores de joelhos. Para isso ocorrer, é fundamental ter as deformidades dos pés corrigidas.

Ortostatismo terapêutico


Além disso, ter os pés bem alinhados e sem deformidades permitem o uso de calçados adequados, retirando os estigmas que a deformidade, não tratada, produz.

Nas crianças que caminham , seja com auxílio de órteses/ muletas ou andadores, os benefícios da correção das deformidades dos pés vem a ser proporcionar aumento nas distâncias percorridas, acabar com calosidades dolorosas nos pés, permitir que as órteses sejam usadas com conforto , diminuir o gasto de energia para longas caminhadas, melhorar o equilibrio para caminhar e diminuir as quedas.

Existem diversas técnicas operatórias para a correção dos pés nas crianças com paralisia cerebral.

Alongamentos tendinosos, transferências tendinosas, osteotomias, artrorrises, artrodeses estão entre as principais utilizadas.

Cada uma tem suas indicações definidas pelo tipo de deformidade encontrada no pé da criança no exame físico e de imagem, na consulta órtopédica.

Obrigado pela atenção.

Um abraço a todos,

Dr. Maurício Rangel

Agendamento de consultas pelo tel. (21) 3264-2232/ (21) 3264-2239.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

A criança com baixa estatura


 Existem diversas causas para baixa estatura nas crianças, algumas com características físicas bem definidas com as acondroplásicas (anãs) e as pseudoacondroplásicas porém, nem sempre é fácil definir a causa da baixa estatura.

As crianças portadoras de síndromes cromossômicas como a síndrome de Turner, as portadoras de displasias ósseas como a displasia espondiloepifisária ou nanismo diastrófico, constituem alguns exemplos onde existe maior dificuldade para definir o diagnóstico.

A baixa estatura pode ser distribuída de forma proporcional no corpo ou desproporcional, onde o encurtamento predomina no tronco com membros normais ou, o contrário, tronco normal com membros curtos.

O profissional que primeiro suspeita da baixa estatura é o pediatra, através do gráfico de crescimento traçado nas consultas de rotina da criança.

Algumas vezes, para determinar a causa da baixa estatura, uma abordagem multidisciplinar é necessário e avaliação com geneticista, endocrinologista e ortopedista pediátrico, precisa ser solicitado.



Do ponto de vista ortopédico, com frequência nos vemos diante de uma criança com dificuldade de ganho de estatura e com deformidades acentuadas nos membros inferiores, seja em geno varo (pernas arqueadas) ou geno valgo (joelhos em tesourinha), cuja causa precisa ser definida.

Neste cenário, precisamos sempre ter em mente a possibilidade de raquitismo.

O que é o raquitismo?

Trata-se de uma patologia do metabolismo ósseo, caracterizada por diminuição da mineralização do osso em crescimento. Para que o osso da criança tenha sua rigidez e alinhamento normal é preciso que receba a deposição normal de cálcio e fosforo (fosfato de cálcio).

Por que ocorre o raquitismo?

Ao contrário do que muitos pensam, não existe apenas o raquitismo carencial, por deficiência na ingestão de cálcio aliás, essa forma é pouco frequente no nosso meio pois, o leite materno. bem como os alimentos industrializados já são enriquecidos com quantidades suficientes de cálcio e vitamina D para a saúde do esqueleto da criança.

Além disso, o estímulo para a exposição à luz solar permite a conversão das formas inativas da vitamina D, existentes na pele, em formas ativas, que permitem a absorção intestinal do cálcio dos alimentos.

Se a forma carencial é pouco frequente, porque o raquitismo ainda existe?

O que muitos não sabem é que o raquitismo pode ocorrer por perda excessiva urinária de fosfato e, com isso, interfere no metabolismo normal do cálcio e fósforo do organismo da criança.

Nesta forma, o orgão responsável pela doença é o rim que permite a excreção excessiva de fosfato pela urina, prejudicando o depósito deste mineral no osso e com isso, a doença se desenvolve. Esta forma é conhecida como raquitismo hipofosfatêmico ou resistente a vitamina D.



Como suspeitar?

Baixa estatura desproprocional, o tronco é pequeno e os membros são deformados grosseiramente. Os exames de laboratório e de imagem revelam alterações características da patologia.

O tratamento inicial é medicamentoso sob supervisão do pediatra e do nefrologista.

O tratamento promove a reversão das alterações agudas da doença, melhora nos exames laboratorias porém, a correção das deformidades pode não ocorrer completamente.


As deformidades que não corrigem ou aquelas que progridem, apesar do tratamento medicamentoso adequado, exigirão tratamento ortopédico.

As técnicas cirúrgicas mais utilizadas são as epifisiodeses e as osteotomias de correção imediata ou progressiva, na dependência da idade da criança e do grau de deformidade.

Obrigado pela atenção.

Um abraço a todos

Dr. Maurício Rangel

Para agendar consulta o tel é (21) 3264-2232/ (21) 3264-2239.



segunda-feira, 9 de junho de 2014

Conheça o quadril na Síndrome de Down



O que é o quadril?

É uma articulação, do membro inferior, formada pelos componentes anatômicos da cabeça e colo femoral e acetábulo.

A cabeça femoral normal é esferica (redonda) e articula-se com o acetábulo.

O acetábulo é a parte de cima da articulação, cobrindo praticamente toda a cabeça femoral e, por isso, é considerado o "teto" da articulação.

Apenas 10 a 15% da cabeça femoral fica fora da cobertura acetabular, sendo considerado normal e fisiológico.

A cabeça e colo femoral formam um ângulo chamado cervicodiafisário, cujo valor normal é determinado apenas, através de exame de imagem.

Chamamos de coxa valga, o aumento patológico deste ângulo.



Tendo este conhecimento preliminar, podemos agora, definir para o leitor a nomenclatura atual e moderna para a patologia do quadril nas crianças com síndrome de down.

Chamamos de displasia do quadril, a patologia em que existe qualquer anormalidade nos componentes anatômicos do quadril, citados acima.

Portanto, qualquer anormalidade no formato da cabeça femoral, formato do acetábulo, ângulo do colo femoral (coxa valga) e ausência ou diminuição da cobertura da cabeça femoral, determinarão o diagnóstico de displasia do quadril.

A nomenclatura antiga, conhecida pela maioria dos leitores como luxação congênita do quadril, luxação adquirida do quadril, subluxação do quadril, quadril instável ou luxável, foi substituida por um termo universal conhecido como displasia do desenvolvimento do quadril.


Por que a nomenclatura mudou?

Por dois motivos principais, o primeiro seria o de facilitar a comunicação entre os profissionais de saúde, evitando equívocos de interpretação pois, as denominações antigas, na verdade representam estágios completamente diferentes da patologia do quadril ou seja, quando alguém se referia com o termo luxação congênita do quadril, quem ouvia não sabia se estavam falando sobre um quadril com ausência completa ou parcial da cobertura da cabeça femoral, se existia ou não coxa valga e se o quadril era instável ou não e, se o acetábulo (teto da articulação) estava bem formado ou não.



Portanto, as denominação antigas não permitiam aos interlocutores, falarem a mesma língua, impedindo as conclusões necessárias quanto as formas de tratamento.

A outra questão, que levou a modificação da nomenclatura, esta relacionada a questões médico legais pois, sabemos hoje, que as alterações do quadril da criança, podem ocorrer em qualquer momento do desenvolvimento e crescimento, não sendo exclusivamente congênitas

Então, quadris que nasceram com a anatomia e estabilidade normais, podem desenvolver a displasia, com o crescimento e desenvolvimento da criança.

Com isso, a nomenclatura passa a ser universal e, quando nos referimos ao quadril displasico ou displasia do desenvolvimento do quadril, todos os ouvintes entenderão a mesma coisa, ou seja, trata-se de uma anormalidade anatômica do quadril, seja no componente femoral (cabeça ou colo) ou no componente acetabular, com ou sem instabilidade articular.




Na síndrome de down, os fatores que favorecem a displasia do quadril são a hipotonia (fraqueza dos músculos), frouxidão ligamentar exagerada e patológica além das alterações ósseas do desenvolvimento.

A displasia do quadril pode ser uma patologia silenciosa, sem nenhum sintoma, no início da vida, só sendo descoberto se procurada pelo médico, nas consultas ortopédicas de rotina, com manobras de exame físico ortopédico e/ou através  de imagem. Por isso, é recomendado, de rotina, a avaliação dos quadris na criança com síndrome de down.

Quando surgem sintomas, o mais frequente é a criança apresentar claudicação (mancar), sensação de falseio, quedas frequentes e, em estágios mais tardios, dor articular, encurtamento do membro inferior e limitação na mobilidade.

Não existe um tratamento único para a displasia do quadril na Síndrome de Down, ou seja, não existe uma "receita de bolo".

O tratamento é sempre individualizado para cada caso e visa corrigir todos os componentes que participam das anormalidades anatômicas.




O conhecimento científico atual:

O quadril displásico na síndrome de down, com ou sem franca instabilidade, precisa de correção ciúrgica para obter o resultado satisfatório.

Que resultado é esse?

Promover a estabilidade articular, restabelecer a anatomia, acabar com as queixas apresentadas e restabelecer a congruência articular, garantindo função normal ao longo da vida.

As alterações ósseas femorais e acetabulares são corrigidas com osteotomias e a frouxidão ligamentar exagerada e patológica, com a capsuloplastia.

A definição do procedimento esta bem estabelecida na literatura talvez, o mais dificil, é a determinação do melhor momento para a realização da cirurgia.

Sabemos também que o tratamento com órteses não oferecem resultados satisfatórios no quesito de establidade articular e nem na promoção das correções das anormalidades ósseas femorais ou acetabulares.

Os quadris displásicos, na síndrome de down, exigirão correção cirúrgica, em algum momento da vida do jovem paciente.

Obrigado pela atenção.

Um abraço a todos.

Dr. Maurício Rangel

Para marcar cosnulta o tel. é (21) 3264-2232/ (21) 3264-2239.


segunda-feira, 26 de maio de 2014

Os problemas da marcha na paralisia cerebral



A marcha é um conjunto de eventos que ocorrem nos membros inferiores da criança e que permitem a sua locomoção.

Para que a locomoção ocorra de forma eficaz, é preciso que a musculatura funcione adequadamente, as articulações estejam com sua amplitude de movimento livre e sem restrições e que os alinhamentos ósseos estejam corretos.

Qualquer encurtamento muscular, com ou sem limitação na mobilidade articular ou, até mesmo mal alinhamento angular ou rotacional nos ossos dos membros inferiores da criança, poderão produzir uma marcha ineficaz.

Na paralisia cerebral, existe uma classificação motora funcional, conhecida com a sigla GMFCS, onde existem 3 grupos de envolvimento motor que permitem a marcha, seja ela independente ou com auxilio de andadores ou muletas.



As dificuldades na locomoção na criança com paralisia cerebral são inúmeras pois, estamos falando de uma patologia que afeta a coordenação motora, o equilíbrio,  leva a hipertonia muscular (espasticidade) e, muitas vezes, está acompanhado de distonia, ou seja, movimentos involuntários.

Sabemos que as limitações nos movimentos dos quadris (principalmente a dificuldade na extensão completa), acompanhado ou não de limitação na abertura das pernas, limitação na extensão dos joelhos e deformidade nos pés (principalmente os pés equinos), são problemas que dificuldam as distâncias percorridas pelas crianças com paralisia cerebral.

As alterações rotacionais dos ossos dos membros inferiores são responsáveis por anormalidades como marcha com os pés virados para dentro, sendo que na maioria das vezes, isso ocorre por deformidade rotacional interna excessiva femoral (osso da coxa).

A deformidade rotacional externa excessiva da tíbia, osso da perna (segmento do membro inferior localizado abaixo do joelho), também pode ser o responsável por anormalidades na marcha da criança principalmente quando estamos diante de uma criança cujos pés estão apontados para fora quando caminham.



Frequentemente, encontramos várias anormalidades no mesmo membro inferior da criança que contribuem em diversos graus, com os problemas na locomoção

Os padrões de marcha anômalos frequentemente encontrados são:

- Marcha na ponta dos pés ou marcha em equino, onde as crianças, ao caminharem, apoiam apenas a ponta dos pés no solo.

- Marcha com os joelhos fletidos, ou seja, aquela em que a criança não consegue a extensão completa dos joelhos para manter-se em postura ereta. Esse tipo de marcha é também conhecido como marcha da "criança desabada".

- Marcha em tesoura, ou seja, aquela em que, ao tentar dar o passo, uma perna cruza sobre a outra.

- Marcha com os joelhos rígidos, ou seja, aquela em que a criança não consegue fletir os joelhos para dar o passo.

Com o exame físico ortopédico especifico para a criança espástica, podemos identificar e diagnosticar os problemas na locomoção e com isso, fazer a melhor indicação para cada caso.



Podemos ainda, utilizar o exame de laboratório da marcha em 3D ou 2D, onde a marcha é filmada de frente e de lado, como mais um objeto de analise para as conclusões necessárias.

O tratamento ortopédico visa promover a correção de todos os componentes anômalos nos membros inferiores da criança, melhorando assim, seu desempenho motor e dando mais autonomia para a locomoção em casa, na escola e na comunidade.

Tanto as contraturas musculares, bem como e as deformidades esqueléticas (ósseas), precisam ser corrigidas e, para isso, contamos com as cirurgias em múltiplos níveis.

São cirurgias que envolvem alongamentos tendinosos múltiplos com ou sem transferências tendinosas e as correções ósseas sedo realizadas no mesmo momento, com as osteotomias.

As vantagens das correções múltiplas são que, permitem a correção do membro inferior como um todo, no mesmo ato cirúrgico, permitem uma só reabilitação pós-operatória e evitam reinternações frequentes para as correções sucessivas.

O pós-operatório necessita de equipe de fisioterapeutas pediáricos para a reabilitação articular e treino da marcha de forma intensiva.

Obrigado pela atenção.

Um abraço a todos,

Dr. Maurício Rangel

Tel. para agendar consulta: (21) 3264-2232/ (21) 3264-2239.

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Criança com a perna torta preocupa?



O formato das pernas da criança, no início da marcha, é sempre observado pelos pais e cuidadores.

Frequentemente, nesta fase da vida, a angulação normal das pernas da criança apresenta um arqueamento.

Chamamos de geno varo, a angulação das pernas em que há um afastamento dos joelhos, quando a criança esta de pé.

Isto é fisiológico e normal, no inicio da marcha.

Até que ponto isto é um problema?

Será que essa perna torta vai piorar?

Será que a criança precisa de algum aparelho corretivo?

Para responder essas perguntas, a primeira coisa a fazer seria uma boa avaliação ortopédica com exame físico.



Sabemos que o arqueamento fisiológico, frequentemente está acompanhado de deformidade rotacional interna da perna (tíbia) e, com isso, a criança caminha com os joelhos afastados e com a frente dos pés para dentro.

A deformidade é mais acentuada em crianças com sobrepeso e obesidade.

Geralmente é simétrica, ou seja, uma perna é igual a outra mas, podemos encontrar assimetrias também.

Grandes assimetrias, são sinais de alerta quanto a evolução desfavorável.

Um ponto importante, que precisa ser avaliado pelo médico, vem a ser a estabilidade ligamentar dos joelhos pois, a frouxidão ligamentar exagerada com a manobra que provoca a deformidade em varo (arqueamento), pode ser um sinal de alerta para progressão da deformidade.

A grande maioria das deformidades em varo das pernas da criança tem evolução benigna, ou seja, tendem a correção espontânea com o crescimento, dentro dos prazos estabelecidos na literatura médica.

Na grande maioria dos casos, a recomendação é para uma vigilância ortopédica, com consultas a intervalos pré-determinados e regulares, para monitorar a evolução da angulação.

Não há nenhuma recomendação para aparelhos corretivos para os casos de geno varo fisiológico.

A história familiar positiva, também exerce influência na velocidade de correção.

Quando a família deve se preocupar?




Nos casos em que há piora progressiva da angulação em varo, nos que apresentam acentuada assimetria com frouxidão ligamentar exagerada nos joelhos e, nos casos que não corrigem dentro dos prazos fisiológicos.

Essas deformidade exigem avaliação física e com imagens pois, a região de crescimento da tibia precisa ser analisada quanto a possibilidade do geno varo patológico.

A principal causa de geno varo patológico, em crianças, é conhecida como doença de Blount e trata-se de uma patologia da região de crescimento da tíbia, de causa desconhecida e cujo tratamento corretivo exige cirurgia ortopédica.

Mensagem para os pais e cuidadores:

- Geno varo em crianças precisa ser avaliado pelo ortopedista pediátrico.

- Na maioria das vezes trata-se de deformidade fisiológica e temporária, com ótimo prognóstico para a correção espontânea, mesmo sem tratamento.

- Acompanhamento regular é necessario para identificar precocemente aqueles casos patológicos

- A principal causa de geno varo patológico é conhecido como doença de Blount e exige diagnóstico preciso, precoce e tratamento cirúrgico corretivo.

Obrigado pela atenção.

Um abraço a todos.

Dr. Maurício Rangel

Para marcar consulta, tel.do consultório é  (21) 3264-2232/ (21) 3264-2239.


segunda-feira, 12 de maio de 2014

Criança tem artrite?




A inflamação articular é conhecido com a denominação de artrite.


As artrites podem ser de instalação aguda e súbita e, como exemplo, nós temos as artrites infecciosas conhecidas como artrites sépticas ou aquelas não infecciosas, sendo o principal exemplo a sinovite transitória.

Encontramos também aquela artrites de instalação lenta, progressiva e persistente, com tempo de duração excedendo 6 semanas, tornando-se quadros crônicos sendo que, nestes casos, temos sempre que ter em mente a possibilidade de doença reumatológica pediátrica.

A artrite idiopática juvenil (conhecida como a sigla AIJ) é a principal patologia reumatológica pediátrica.

O que é a AIJ?

Trata-se de uma patologia de causa desconhecida que caracteriza-se por inflamação não infecciosa acometendo uma ou várias articulações.

Pode acometer uma articulação (chamada de forma monoarticular), a forma pauciarticular é aquela em que até 4 articulações são acometidas e a polarticular, quando acomete mais de 4 articulações.


A patologia afeta a membrana sinovial da articulação, levando a aumento do liquido sinovial, devido a inflamação e, mais tardiamente, leva a proliferação e hipertrofia do tecido sinovial.

Geralmente as meninas são mais acometidas com idades de pico de incidência entre 1 a 4 anos com outro pico entre 9 a 14 anos.

Com relação as articulações mais acometidas nós temos os joelhos, tornozelos e cotovelos, sendo que os quadris podem ser acometidos nas formas pauciarticulares ou poliarticulares.

Nas formas monoarticulares da doença, o cenário encontrado é de uma criança de baixa idade, com estado geral normal, ativa, sem febre e apenas com queixas locais intermitentes de dor e limitação da mobilidade da articulação acometida. Se a articulação for do membro infeiror, claudicação (mancar) ou, até mesmo, não querer caminhar pode ser uma queixa apresentada.


A definição quando ao diagnóstico exige investigação com exame físico, de imagem e laboratorial pois, diversos diagnósticos diferencias precisam ser afastados, principalmente as artrites infecciosas agudas, artrite tuberculosa, osteomilelite subagudas, lesões tumorais periarticulares.

Uma vez confirmado o diagnóstico de AIJ e afastado todas as causas ortopédicas de dor articular, a criança precisa ser tratada pelo reumatologista pediátrico.


O tratamento inicial é medicamentoso, visando a remissão da patologia porém, aqueles casos em que a inflamação articular não consegue ser controlada com medicamentos sistêmicos, exigem medicamentos intra-articulares.

Fisioterapia motora é importamte para ganho de mobilidade e evitar surgimento de deformidades.

O tratamento ortopédico cirúrgico destina-se para casos que evoluiram para deformidades com prejuizo motor e da marcha ou, para casos com importante limitação dolorosa articular com diminuição importante  do espaço articular e alteraçoes degenerativas.

Obrigado pela atenção,

Um abraço a todos.

Dr. Maurício Rangel

Tel. do consultório para agendar consultas: (21) 3264-2232/ (21) 3264-2239.