No Brasil, a tuberculose pulmonar é uma doença endêmica.
Faz parte do calendário de vacinação das crianças, a vacina BCG, que deve ser aplicada no primeiro mês de vida e tem como objetivo estimular o sitema immunológico para as defesas contra a bactéria da tuberculose.
A vacina não impede que a criança tenha tuberculose, apenas impede as formas graves da doença.
A tuberculose pulmonar é transmitida por via respiratória, através da disseminação da bactéria por gotículas expelidas durante a tosse das pessoas com a doença.
A bactéria se aloja nos pulmões podendo ou não levar a doença.
Se o sistema imunológico estiver competente, os anticorpos inativam a bacteria alojada nos pulmões e não ocorre a doença.
Em situações onde há diminuição da imunidade ou, quando a bactéria consegue superar as defesas do organismo, ocorrerá a doença pulmonar ou qualquer forma extra-pulmonar.
A turberculose óssea:
Como a bactéria, que se aloja nos pulmoes, chega até o osso?
Na verdade, os pulmões são apenas a porta de entrada da bactéria para o interior do organismo.
Ao chegar no pulmão, a bactéria atinge a corrente sanguínea e fica circulando pelo organismo porém, sendo inativada pelo sistema imunológico. Através do sangue, atinge diversos orgãos inclusive os ossos e articulações.
A infecção óssea:
A tuberculose óssea tem uma evolução lenta e progressiva, diferente das infecções ósseas não tuberculosas, que apresentam evolução rápida e grave.
O quadro clínico:
- Dor no segmento acometido, geralmente na coluna vertebral (espondilodiscite) mas, pode acometer qualquer osso ou articulação;
- Geralmente a intensidade da dor é leve mas, como a evoluçao é longa, há piora progressiva;
- Criança começa a mancar, ter dificuldade para sentar e ficar em pé;
- Febre intermitente, geralmente a tarde ou final do dia (vespertina) e perda de apetite e peso podem estar presentes;
- Abatimento e piora progressiva do estado geral da criança
O exame físico:
Geralmente encontramos o segmento acometido doloroso, com diminuiçao da mobilidade, podendo estar inchado mas, sem sinais inflamatórios como vermelhidão, aumento da temperatura local, comuns das infecções não tuberculosas.
A investigação:
Em qualquer suspeita de infecção esquelética, seja tuberculosa ou não, é fundamental a realização de exames de imagem (RX) e laboratório (sangue)
A radiografia:
Como a tuberculose é uma patologia de evolução lenta, geralmente, quando a criança chega a consulta, já haverá alteração radiológica no segmento acometido.
A imagem que mais se associa a tuberculose ossea é semelhante a um cisto dentro do osso, próximo a região de crescimento do osso, como a imagem abaixo.
Há uma imagem arredondada, parecendo um orifício dentro do osso em questão.
Só esta imagem, nao é suficiente para o diagnóstico por que, existem inúmeras outras patologias ósseas com imagem semelhante podendo inclusive, ser identica a infecção não tuberculosa.
O laboratório:
As alterações existentes, também não são específicas de tuberculose, os exames só revelam que existe uma patologia infecciosa em questão, sem identificar a causa.
O diagnóstico de certeza:
A única forma é através da identificação da bactéria causadora da doença em amostras de tecido colhido através de cirurgia (biópsia da lesão) ou, através das alterações microscópicas existentes neste tecido (exame patológico)
O tratamento:
Geralmente é medicamentoso com medicamentos específicos fornecidos pelo Ministério da Saúde.
O tempo de tratamento é longo, sendo exigido terapia medicamentosa por 9 meses, para os casos osteoarticulares.
Cirurgia ortopédica é indicada para casos com falha do tratamento medicamentoso isolado ou, quando há formaçao de abscesso intra articular, exigindo drenagem.
Na coluna vertebral, cirurgia é o tratamento de escolha quando há deformidade e comprometimento neurológico com fraqueza muscular, por compressão da medula espinhal.
Conclusões:
Tuberculose deve ser sempre lembrada no diagnóstico diferencial de infecções esqueléticas em crianças.
Embora não seja a causa mais comum, deve ser investigada principalmente nos casos em que a resposta ao tratamento habitual não ocorre.
Para o diagnóstico de certeza é necessário a identificação da bactéria em amostras de tecido infectado.
Um abraço a todos
Dr. Mauricio Rangel.
Dr. Mauricio, eu tive tuberculose óssea nas vértebras L3 e L4, a 25 anos e segundo o médico que me tratou estou clinicamente curada. Houve redução significativa do espaçamento entre as vértebras e eu sinto dores fortes na lombar(que pode não ser por isso, levarei a tomografia amanhã ao médico). Na época, ninguém suspeitou de tuberculose, nem na USP em São Paulo, nem na UNICAMP. Foi por acaso que foi descoberto, com a ajuda de um médico chamado Dr. Valdir Natalino de Godoy. Por pouco não perdi a capacidade de andar totalmente, já que não conseguia mais ficar em pé. Minha mãe diz que eu chorava horrores de dor. É bom saber que as coisas evoluíram e que crianças poderão ser diagnosticadas mais cedo.
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