Dor óssea e articular em crianças é uma queixa frequente nos consultórios.
Algumas vezes a dor existe em mais de um segmento corporal, chamada de poliartralgia, ampliando assim as possibilidades diagnósticas.
São diversas as causas existentes para a mesma queixa.
Chegar ao diagnóstico definitivo, nem sempre é uma tarefa fácil.
Patologias ortopédicas, reumatológicas e até hematológicas devem ser pensadas para chegarmos a causa da dor.
Em patologias não ortopédicas mas, que se apresentam com dor musculoesquelética no início do quadro, muitas vezes, é o ortopedista pediátrico, o primeiro médico a ser procurado para avaliar a criança.
As características da dor, o exame físico detalhado e um alto grau de suspeita devem ser necessários para fazer o exato diagnóstico.
O objetivo deste artigo é o de chamar a atenção para uma patologia não ortopédica, chamada de leucemia, cujo diagnóstico precoce é muito importante para o tratamento e prognóstico, em que suas manifestações iniciais se dão através de dor osteoarticular em vários segmentos do corpo.
As manifestações ortopédicas das leucemias:
Leucemia é uma patologia maligna da medula óssea.
É o principal tumor que acomete as crianças.
Suas manifestações clínicas podem simular diversas patologias ortopédicas, sendo a dor óssea uma queixa muito comum.
A primeira queixa apresentada pelas crianças com leucemia vem a ser a dor óssea pois, ocorre uma proliferação das células malignas da medula óssea contida nos ossos longos dos membros superiores e inferiores e coluna vertebral, dando origem aos sintomas iniciais.
Inicialmente essa dor é inespecífica, podendo acometer qualquer osso ou articulação e podendo também ocorrer em vários segmentos corporais ao mesmo tempo.
Cerca de 80% das crianças apresentam algum sintoma associado, já na primeira avaliação, sendo que o principal são episódios de febre que podem ser intermitentes ou constantes e de origem obscura.
Pode haver relato de abatimento, perda de peso e apetite e mudanças nas rotinas diárias da criança relacionadas a fadiga.
O exame físico ortopédico muitas vezes é inespecífico, não havendo limitação na mobilidade passiva das articulações ou inchaço mas, podendo haver dor a palpação óssea nos segmentos acometidos.
A suspeita:
Na rotina de investigação, devemos sempre solicitar exames simples de imagem e laboratório com o objetivo de encontrar a causa para as queixas e também para afastarmos algumas patologias dentro das várias possibilidades existentes.
Radiografia simples:
Na leucemia, as radiografias revelam algumas alterações sugestivas sendo a osteopenia (refletindo o enfraquecimento ósseo), um achado muito frequente mas, também inespecífico, podendo ocorrer em outras patologias.
O laboratório:
O exame de sangue (hemograma) com marcador de inflamação também deve fazer parte da avaliação inicial.
O hemograma em 60% dos casos vai revelar aumento dos leucócitos (células de defesa do corpo) e os marcadores de inflamação estarão elevados também.
Essa combinação de dor óssea acompanhaddo de febre com laboratório revelando elevação da céluas de defesa e marcadores de inflamação elevados, farão a suspeita do principal diagnóstico diferencial que é o de infecção osteoarticular (osteomielite ou artrite séptica), que são muito mais comuns do que a leucemia.
Os casos de suspeita de infecção musculoesquelética que não apresentam bactéria identificada e não melhoram com a terapia cirúrgica e medicamentosa indicada, reforçam a suspeita de leucemia como diagnóstico definitivo.
Outro ponto importante que deve ser ressaltado na suspeita são as crianças que apresentam como queixa principal dor óssea com episódios de febre intermitente e que apresentam no laboratório anemia inexplicada acompanhada de diminuição do número de células de defesa (leucócitos).
Conclusões:
Dor óssea em crianças com episódios de febre intermitente, associado ou não a perda de peso, apetite e abatimento, deve ser investigado com exame físico criterioso, exame de imagem e de laboratório.
Muitas vezes é o ortopedista pediátrico o primeiro médico a examinar a criança.
Exames simples como hemograma completo e marcador de inflamação, com radiografia simples podem, em conjunto com os dados obtidos na história clínica e exame físico fazer o diagnóstico precoce de leucemia.
Uma vez confirmado a suspeita, a criança deve ser avaliada por hematologista ou oncologista para a confirmação do tipo de leucemia e o início do tratamento.
Um abraço a todos,
Dr. Maurício Rangel
Tel. (21) 3264-2232/ (21) 3264-2239
E-mail: dr.mauriciorangel@yahoo.com.br
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