Existe relação entre obesidade infantil e fraturas?
A obesidade é um problema de saúde
pública mundial.
Atinge índices elevados na população
mundial sendo considerada uma epidemia em vários países.
O índice de massa corporal (IMC) é a medida usada para diagnóstico de
sobrepeso e obesidade.
O IMC é obtido através da relação do peso
corporal, em Kg, dividido pelo quadrado da altura, em metro.
Em crianças e adolescentes, existem
gráficos para os valores normais de IMC de acordo com idade e sexo.
A elevação desse índice é suficiente para
classificar a criança como portadora de sobrepeso, obesidade ou obesidade
mórbida, dependendo do valor obtido.
Na
população americana, dados mais recentes revelam que, 32% das
crianças maiores de 2 anos de idade tem sobrepeso e 17% são obesas.
A obesidade tem íntima relação com
algumas patologias musculoesqueléticas como as deformidades nos membros
inferiores, conhecida como doença
de Blount e patologia do quadril
do adolescente chamada de Epifisiólise.
Além disso, crianças e adolescentes
obesos tem incidência maior de dor articular devido a sobrecarga mecânica.
Estudos
epidemiológicos, realizados em centros
de trauma pediátrico americanos, sugerem
que a incidência de fraturas é maior
em crianças obesas do que nas não obesas.
Por que a
obesidade infantil é um fator de risco para fraturas?
Os fatores hormonais:
Estudos
metabólicos revelam que o tecido
adiposo produz um hormônio
chamado Leptina.
A
elevação dos níveis sanguíneos desse hormônio, atua no sistema nervoso central,
em uma área do cérebro conhecida como hipotálamo, inibindo o apetite e, nos outros tecidos, estimula
o gasto energético da gordura armazenada no organismo.
Com isso, sua ação protege o
organismo contra o sobrepeso e obesidade.
Os
pacientes obesos apresentam níveis sanguíneos elevados de Leptina, porém, por mecanismos ainda não completamente
compreendidos, sua função não é adequada.
Pesquisadores
acreditam que os pacientes obesos apresentem resistência dos tecidos ao hormônio.
Com
isso, os indivíduos não têm sua
regulação do apetite e acabam ingerindo calorias acima do necessário, não tendo também estímulo ao gasto energético das reservas de
gordura do organismo, gerando com isso o sobrepeso e obesidade.
Os pacientes
obesos têm massa óssea idêntica a de pacientes não obesos?
A ação da
Leptina no tecido ósseo:
A
elevação dos níveis sanguíneos do hormônio, nos obesos, atua no metabolismo
ósseo diminuindo a massa óssea.
A Leptina inibe, na medula óssea, a
síntese de células produtoras de osso, conhecidas como osteoblastos.
Com
isso, a espessura dos ossos de
crianças obesas é menor , quando
comparadas com crianças não obesas.
Essa
diminuição da massa óssea das crianças obesas, diminui a resistência óssea contra traumas
favorecendo com isso as fraturas.
O
desenvolvimento motor:
Estudos
cientifícos revelam que, na aquisição das habilidades motoras, as crianças obesas, por serem mais sedentárias, tem prejuízo na
coordenação, equilíbrio, postura, reflexos , tendo menor velocidade de reação
contra traumas.
Esse
comprometimento motor predispõe a uma maior incidência de quedas e acidentes quando são solicitados
habilidades pelas quais não estão treinadas.
Isso também representa um fator de risco
para fraturas.
Os
mecanismos que levam a fratura:
As fraturas podem ocorrer por trauma de baixa energia, como nas quedas ou, por trauma de alta energia, como nos acidentes automobilísticos.
Independente da causa, para que o osso
frature é necessário a associação de duas forças.
A força de desaceleração, que é aquela gerada pela colisão do osso contra
uma superfície sendo, a outra força, representada pela carga axial do peso
corporal sobre esse osso em questão.
Como,
nos pacientes obesos, o peso
corporal é acima do limite da
normalidade e, a resistência
óssea é diminuída em função da ação da Leptina no metabolismo ósseo, temos portanto um ambiente favorável para a
ocorrência da fratura.
Portanto
concluímos que, existe íntima relação
entre obesidade infantil e maior incidência de fraturas.
Argumentos
de que crianças obesas teriam uma maior proteção óssea, contra fraturas, porque
o tecido adiposo atuaria como uma barreira por absorver impactos, caem em desuso diante das evidências científicas
atuais.
Especulações
sobre a maior resistência óssea de obesos em função do maior peso corporal
gerando ossos espessos, não são
sustentadas atualmente frente as evidências científicas da ação da leptina no
metabolismo ósseo.
Tratamento
Sabemos
hoje que, crianças obesas têm maior risco de fraturas e programas de prevenção da obesidade e
fraturas devem ser estimuladas a todo custo.
Estímulo a prática de exercício físico,
ganho de aptidões motoras como coordenação, equilíbrio, flexibilidade e força,
acompanhamento nutricional e endócrino, terapia comportamental, visando
normalizar o índice de massa corporal são medidas que devem ser exaustivamente
incentivadas.
Para
que os melhores resultados no controle da obesidade sejam atingidos, é muito
importante a motivação do jovem e, participar de esportes organizados, tem
um papel fundamental no quesito motivacional.
Sabemos também que, quanto mais cedo
começarmos o tratamento, melhores serão os resultados obtidos.
Um abraço a todos,
Dr. Maurício Rangel
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