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segunda-feira, 27 de abril de 2015

Como prever as aptidões motoras da criança com paralisia cerebral?




As crianças com paralisia cerebral apresentam sequelas motoras, maiores ou menores, na dependência da extensão da lesão no sistema nervoso central.

Sabemos que a lesão no sistema nervoso central é estática, crônica e não progressiva determinando distúrbios do movimento, coordenação motora, força e equilibrio.

Sabemos também que as repercussões motoras musculoesqueléticas, tem comportamento progressivo pois, a história natural dos músculos espásticos (hipertônicos), é para o surgimento de encurtamentos e deformidades fixas das articulações que, vão determinar a piora motora da criança.

Não significa dizer que a lesão no sistema nervoso central piorou, apenas estamos querendo dizer que as repercussões motoras esqueléticas pioram com o crescimento da criança.

Por que isso ocorre?

Sabemos que os músculos comprometidos pela espasticidade (hipertonia), não relaxam adequadamente e, por isso, tem uma velocidade de crescimento menor do que os ossos, gerando assim, encurtamentos musculares e o surgimento de deformidades com diminuição na amplitude de mobilidade das articulações.

A deformidade articular e a diminuição da amplitude de movimento articular terão repercussão negativa na locomoção da criança.

É fato que os músculos espásticos, embora com tônus muscular aumentado, tem diminuição na força.

Sabemos que, com o crescimento da criança, seu peso corporal também aumenta e, essa combinação de fatores: Músculos espásticos fracos, deformidades articulares e ganho de peso corporal da criança, dificultam a sua locomoção e, consequentemente ocorre a piora do ponto de vista motor.

A criança com paralisia cerebral tem uma demora no ganho de aptidões motoras. Precisam ser estimuladas para que ganhem algumas aptidões e, o limite desse ganho, é dependente do grau de lesão do sistema nervoso central.

Podemos fazer um prognóstico motor para as crianças com paralisisa cerebral. Por volta dos 6 anos de idade, a maioria das crianças com paralisia cerebral tem maturidade motora do sistema nervoso central, ou seja, suas aptidões motoras máximas foram atingidas e, a partir deste momento, tendem a entrar numa fase de estabilidade motora, se tratadas adequadamente.

Se não forem tratadas, tendem a apresentar piora motora progressiva, pelos motivos citados acima.


O prognóstico motor na paralisia cerebral é estabelecido pelo sistema de classificação motora funcional grosseira (GMFCS). Trata-se de uma classificação em 5 grupos (níveis) que, tem por objetivo estabelecer o planejamento do tratamento ortopédico e as expectativas motoras futuras da criança em questão:

GMFCS 1 - São crianças que caminham independente dentro e fora de casa. Sobem escada sem usar o corrimão, conseguem correr e pular mas tem leve comprometimento no equilibrio, velocidade e coordenação.
GMFCS 2 - Também caminham independente dentro e fora de casa mas, usam o corrimão para subir escadas, não correm ou pulam, tem dificuldade de caminhar em terrenos irregulares e inclinados.
GMFCS 3 - Caminham dentro e fora de casa com andadores ou muletas, desde que em terrenos planos. Usam cadeira de rodas manuais para deslocamentos de maiores distâncias fora de casa e em terrenos irregulares.
GMFCS 4 - São cadeirantes dentro de casa, na escola e na comunidade. Sustentam a cabeça e tem marcha apenas assistida (pelo fisioterapeuta ou cuidador), por pequenas distâncias.
GMFCS 5 - São cadeirantes, não sustentam a cabeça e tronco e tem grande comprometimento motor.

Cada grupo tem um comportamento estável ao longo do tempo, desde que a criaça seja tratada adequadamente.



 É importante saber que o tratamento ortopédico não consegue mudar o nível da classificação motora de cada criança, ou seja, uma vez que a criança seja classificada como nivel 4 por exemplo (cadeirante), mesmo com todas as modalidades de tratamento existentes, a criança não passará a ser um nivel 3 ou 2.

O objetivo do tratamento ortopédico é o de manter a criança dentro do seu nivel motor ao longo do tempo e, com isso, impedindo a história natural de piora progressiva ao longo do tempo.

Portanto, nas ciranças cadeirantes, GMFCS 4 e 5 os objetivos do tratamento cirúrgico ortopédico são os de permitir a criança sentar bem na cadeira, proteger os quadris, mantendo-os congruentes, sem dor e com boa mobilidade, manter a coluna livre de deformidades permitindo um bom posicionamento do tronco para sentar na cadeira de rodas, corrigir deformidades dos pés para que usem órteses e calçados adequados e, se possivel, permitir o ortostatismo terapêutico com extensores de joelho e órteses AFO.

Para as crianças com GMFCS 3, os objetivos são os de correção cirúrgica das deformidades em quadris, joelhos e pés com o intuito de preservar a capacidade de locomoção com andadores ou muletas por maior período de tempo possivel, mesmo com o crescimento esqueletico da criança.

Obrigado pela atenção.

Um abraço a todos.

Dr. Maurício Rangel (Ortopedista Pediátrico)

Para marcar consulta o tel do consultório é (21) 3264-2232.