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quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Saiba tudo sobre as órteses na paralisia cerebral



Crianças com  paralisia cerebral espástica apresentam hipertonia muscular, ou seja, um estado de contração involuntário e constante nos músculos envolvidos, tornando-os mais rígidos, além de, distúrbios do movimento, coordenação, equilíbrio e força muscular.

Uma das manifestações mais comuns, na criança com paralisia cerebral é a deformidade em equino dos pés, ou seja, ficam na ponta dos pés quando são colocadas em pé ou, naquelas que tem capacidade de marcha, o fazem sempre na ponta dos pés.



Dentre as modalidades de tratamento existentes para as crianças com paralisia cerebral, encontramos as órteses.

O que é uma órtese?

É um aparelho, feito de polipropileno (plástico resistente), com tiras de velcro.

A mais utilizada na paralisia cerebral é a órtese conhecida com a sigla AFO, que em inglês significa (A- ankle, F- foot, O- orthosis), ou seja, órtese tornozelo-pé.

Utilizada abaixo do joelho, por trás da panturrilha, tornozelo e pé, fixado ao segmento corporal com as tiras de velcro (veja exemplo abaixo).




Para que serve uma órtese?

Os objetivos a serem alcançados com a órtese vão depender do prognóstico de marcha da criança e, são diferentes para as crianças que são cadeirantes, daquelas que são andadoras.

Precisamos ter isso sempre em mente e, transmitir aos familiares e cuidadores, os reais objetivos que queremos alcançar quando prescrevemos uma órtese.

Na minha pratica diária, vejo muitos profissionais que lidam com crianças portadoras de paralisia cerebral, confundirem os objetivos das órteses, dando muita importância a alguns pontos irrelevantes e, não valorizando pontos importantes, de acordo com o comprometimento motor da criança em questão.

Essa visão equivocada, acaba por trazer insegurança para os familiares e a sensação de que alguma coisa está errada e precisa ser modificada, ou seja, o médico fala uma coisa, enquanto outro profissional fala outra, sem o menor fundamento científico para isso. Quem sai prejudicado com isso é a criança que fica no centro deste fogo cruzado!

Por isso, costumo dizer que, quem deve sempre ser o responsável pelo tipo de órtese prescrito e por explicar todos os benefícios do aparelho para cada criança tratada, é o médico assistente.

Confiem nas orientações médicas, as dúvidas ou opiniões de qualquer outro profissional de saúde devem ser trazidas ao médico responsável pelo tratamento, só ele pode trazer a tranquilidade necessária para a família e cuidadores de que tudo esta sendo feito seguindo os princípios éticos e ortopédicos para o benefício da criança.

O médico assistente é quem tem o fundamento científico necessário para prescrever a órtese correta para cada tipo de criança com paralisa cerebral e para esclarecer os benefícios esperados.

Órteses para crianças não andadoras:


As crianças não andadoras, na maioria das vezes, tem envolvimento motor acometendo o corpo todo (tetraparéticas espásticas), muitas tem gastrostomia e traqueostomia e, crises consulsivas controladas com medicamentos.

A finalidade da órtese é o de manter o tornozelo e pé em posição fisiológica de forma que a criança ao ser colocada em pé, fique com o apoio da planta do pé todo no solo e não, na postura em equino (ponta de pé).

Impede também os movimentos de inversão e eversão do pé, ou seja, varo e valgo, que com frequência acompanham a deformidade em equino, contribuindo assim para a manutenção  da posição plantígrada e estável dos pés.

Mantém a panturrilha sempre alongada, com isso, evitando ou postergando o surgimento de deformidade fixas e irredutíveis, ou seja, aquelas em que ao manipularmos os pés, não conseguimos coloca-los na posição fisiológica de 90 graus com a perna.

Com isso, conseguimos obter uma base de sustentação dos pés e tornozelos, estáveis, plantígrados, que permita a criança realizar o ortostatismo terapêutico (ser colocada em posição de pé) e todos os benefícios que a postura ereta propicia para a criança.

 Isso sim, justifica o uso e prescrição de órtese AFO, para as crianças não andadoras.

Importante ressaltar que, na criança não andadora, em nenhum momento nos preocupamos com a curvinha medial dos pés, ou seja, com o arco longitudinal medial dos pés pois, não é esse o objetivo da órtese.

Estamos nos preocupando com objetivo muito maior e importante do que a curvinha medial do pé, preocupação com isso, seria valorizar coisas irrelevantes para a criança não andadora.

Gostaria que o leitor fizesse uma reflexão sobre isso. Tenho certeza que concordarão comigo.

A órtese para crianças andadoras:


A marcha é dividida em fase de apoio (aquela em que o pé esta em contato com o solo) e fase de balanço (aquela em que o pé está fora do contato com o solo, no momento do passo).

Enquanto um pé esta na fase de apoio, o outro esta na fase de balaço.

60% do ciclo da marcha, os pés estão em contato com o solo e 40%, estão fora do contato com o solo.

As órteses trazem benefícios em ambas as fases da marcha na criança com paralisia cerebral.

Além dos mesmos benefícios citados para as crianças não andadoras, é importante citar que:

- Permitem ao pé, ao sair do solo para iniciar o passo, não arraste a ponta no chão;

- Permitem o contato inicial do pé com o solo, ser feito com o calcanhar e não com a ponta do pé;

- Permitem o aumento do comprimento do passo;

- Diminuem a cadência da marcha, ou seja, permitem que a criança dê menor número de passos para percorrer uma distância porém, com maior comprimento do passo, tornando a marcha mais eficiente e com menor gasto energético.

Com isso a criança caminha maiores distâncias, com menor fadiga.

Faz com que a marcha seja feita de forma mais fisiológica, ou seja, começando com o apoio do calcanhar, seguido pelo apoio da planta e por último a ponta dos dedos.

Conclusões:



O tipo de órtese,e seus objetivos para a criança com paralisia cerebral são de responsabilidade do médico assistente.

Ouçam com atenção as justificativas apresentadas para a prescrição e, confiem em seus médicos.

Opiniões divergentes, não trazem nenhum benefício para a criança, qualquer coisa dita por outro profissional de saúde que lida com a criança deve ser imediatamente esclarecida e conversado com o médico.

Todo o conhecimento cientifico citado neste texto é divulgado amplamente na literatura mundial sobre esse assunto e, são originados dos avanços que o laboratório de marcha trouxe para a compreensão da marcha da criança com paralisia cerebral espástica.

Obrigado pela atenção.

Um abraço a todos.

Dr. Maurício Rangel.

Marcação de consultas: tel. (21) 3264-2232/ (21) 3264-2239.

4 comentários:

  1. Quanto tempo/horas por dia uma criança deve permanecer com uma órtese (tala, abdutor,goteira)? É recomendado que a criança durma (passe a noite) com a órtese?

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    1. Boa noite, falando especificamente de orteses AFO, devem ser usadas diurno e noturno, sendo retiradas para banho e para realização dos exercícios fisioterapicos de alongamentos musculares e para a hidroterapia. Maiores esclarecimentos somente em consulta ortopédica, tel. para agendamento de horário, (21) 3264-2232/ (21) 3264-2239. Atenciosamente.

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  2. Também gostaria de saber por quanto tempo a criança deve permanecer com a ortese.

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    1. Boa noite, leia a resposta acima. Maiores esclarecimento somente em consulta ortopédica, tel. para agendar horário, (21) 3264-2232/ (21) 3264-2239. Atenciosamente.

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